Imagine o dia em que não precisarmos mais  plugar aparelhos elétricos à tomada para que eles funcionem, pois o  equipamento será capaz de captar a energia que precisa, através do ar.  Apesar de isso parecer tema de filme de ficção científica, a tecnologia  existe, está em fase de experimentação e promete revolucionar a forma  como pensamos em fontes de alimentação para equipamentos eletrônicos (e  até os outros tipos de eletrodomésticos, como geladeiras, fornos de  microondas, etc.). Ou seja, será possível ligar aparelhos em locais onde  ficaria muito difícil ou mesmo impossível utilizar cabos de energia.
 De onde veio isso?
 A história da transmissão sem fio de energia elétrica é mais velha do  que você pode imaginar. Já no Século 19, os estudos sobre a energia  elétrica avançavam rapidamente e suas aplicações eram difundidas e  ampliadas a diversos tipos de equipamento. Em 1894, ou seja, mais de cem  anos atrás, nosso grande amigo Nikola Tesla conseguiu acender uma  lâmpada sem o uso de qualquer cabo de energia, através de um processo  chamado “indução eletrodinâmica”.
 
 Nikola  Tesla é considerado um dos mais importantes nomes da engenharia  elétrica. Seus estudos foram críticos para a melhoria da energia  elétrica usada para fins comerciais.
 Em 1988, um grupo de estudos liderado por John Boys construiu o  primeiro protótipo de fonte de alimentação que dispensava contato físico  com os equipamentos alimentados. A tecnologia foi patenteada então pela  empresa da universidade onde foi criada. Em 2008, a Intel conseguiu  reproduzir os modelos de Tesla e do grupo de John Boys, acendendo uma  lâmpada sem a utilização de fios, com luminosidade satisfatória.
 Como funciona?
  O  processo físico de transmissão de energia elétrica sem a utilização de  cabos é exatamente o mesmo realizado nas telecomunicações, com a única  diferença de que o foco dos cientistas está na eficiência com que a  energia é entregue. A eficiência pode ser entendida como a capacidade  que o equipamento tem de converter a energia recebida, seja do tipo que  for, em energia elétrica. Quanto mais energia for gerada na conversão,  maior a eficiência.
O  processo físico de transmissão de energia elétrica sem a utilização de  cabos é exatamente o mesmo realizado nas telecomunicações, com a única  diferença de que o foco dos cientistas está na eficiência com que a  energia é entregue. A eficiência pode ser entendida como a capacidade  que o equipamento tem de converter a energia recebida, seja do tipo que  for, em energia elétrica. Quanto mais energia for gerada na conversão,  maior a eficiência.
 Qualquer aparelho que possua uma antena — como rádios, antenas  parabólicas, telefones celulares e outras engenhocas — recebe uma  quantidade de energia, interpreta-a e transforma em dados que você  visualiza na tela do monitor, televisão, etc. A transmissão de energia  elétrica será muito semelhante, então imagine que daqui a pouco tempo,  seu celular não precisará de bateria enquanto estiver ao alcance de uma  antena. Outras maravilhas serão possíveis com a tecnologia, e estamos  babando para que elas aconteçam.
 Uma  organização chamada Wireless Power Consortium (Consórcio de Energia sem  Fio) já foi criada para se responsabilizar pela padronização de todos  os dispositivos de transmissão de energia elétrica sem fio.
 Você poderia perguntar algo como “se essa tecnologia vingar, eu não  vou tomar choques constantes quando eu sair de casa?” A resposta é não,  porque, o “formato” com que a energia circulará pelo ar não é o mesmo  que circula pelos cabos elétricos. Quando falamos sobre eficiência há  pouco, nos referíamos justamente à capacidade que os equipamentos terão  de converter esse “formato” de energia para um que seja capaz de  alimentar o aparelho.
 Quando estará disponível?
 Na verdade, a energia elétrica sem fio já é utilizada, mas em escalas  menores. Você já deve ter visto transformadores pendurados em postes.  Esses equipamentos possuem componentes internos que não se tocam, mas  transmitem energia um ao outro através de um fenômeno chamado indução.  Além disso, quase todo equipamento elétrico possui esse tipo de  componente interno. Assim, para podermos usufruir de energia elétrica  transmitida pelo ar, o processo físico que já acontece na sua geladeira,  no transformador da rua ou no seu computador, será adaptado e sua  escala aumentada.
 Telefones  celulares, telefones residenciais sem fio, antenas parabólicas,  satélites, estações de rádio, roteadores de redes Wi-Fi, Bluetooth e  raios laser são exemplos de aplicações que transmitem e recebem  diferentes tipos de energia sem fio. A energia elétrica funcionará de  forma similar.
 Possibilidades infinitas
 Inicialmente, qualquer tecnologia é extremamente limitada e,  portanto, a energia elétrica sem fio terá capacidade de fazer pouca  coisa no começo. Entretanto, um grande benefício de se transmitir  energia elétrica pelo ar é que seria uma ótima maneira de eliminar a  poluição visual causada pela quantidade imensa de cabos que povoam tanto  paisagens externas quanto internas. Poderíamos andar por ruas sem  vermos aquele emaranhado de fios passando sobre nossas cabeças, não  correríamos mais o perigo de tropeçar em um cabo solto no chão, assim  como nunca mais teríamos problemas com eletricistas, nem precisaríamos  olhar a planta baixa de nossas casas na hora de martelar um prego na  parede.
 Imagine que, além de acessar a internet sem usar fios, você poderá  ligar seu MP3 player sem qualquer tipo de bateria, captando energia do  ar e alimentando o aparelho com ela. Ou ainda, a própria energia  recebida pelo ar poderia ser utilizada para carregar a pilha do  aparelho, para que seja utilizada nos momentos em que uma antena não  estiver disponível.
 
 Carros elétricos já são uma possibilidade real e viável, mas o  mercado não deixa que eles sejam difundidos devido à grande quantidade  de petróleo disponível nas reservas. Porém, quando eles começarem a ser  produzidos em escala industrial, e se a energia elétrica sem fio já  estiver disponível, imagine que você poderá dirigir um carro totalmente  silencioso, econômico e não poluente, deixando outras fontes de energia  como secundárias, para quando você estiver longe de uma antena.
 O que já pode ser feito?
 Já estão disponíveis vários produtos que utilizam energia sem fio  para carregar a bateria de eletrônicos. Um deles é o carregador do Palm  Pre Touchstone. O usuário só precisa colocar o dispositivo em cima do  carregador, ímãs posicionarão corretamente o aparelho e, em seguida, o  Palm será carregado sem qualquer fio conectado a ele.
 
 A Philips já possui vários produtos que aproveitam a tecnologia de  energia elétrica sem fio para carregar a bateria dos aparelhos.  Barbeadores, escovas de dente elétricas, e até massageadores íntimos já  estão disponíveis com a nova tecnologia.
 
 Os proprietários de consoles do Nintento Wii foram agraciados no ano  passado com o lançamento de um carregador, fabricado pela Sanyo, que  dispensa o contado com a bateria para carregá-la. Basta posicionar o  Wii-mote sobre o carregador para que ele seja automaticamente  recarregado.
 
 Nada como uma pantufa para esquentar seus pés no inverno. Mas e se  uma pessoa muito friorenta precisa de algo que aqueça de forma mais  eficiente? Simples, basta que ela compre as pantufas aquecidas Fu Da  Tong Techonology, uma empresa de Taiwan, dedicada ao desenvolvimento de  energia wireless. As pantufas mantêm-se aquecidas e quando a bateria  terminar, basta descalçá-las e deixá-las em cima do tapete carregador.
 
 Estes são somente alguns exemplos do que a energia sem fio pode  fazer. Muita coisa ainda está sendo estudada e muitos produtos ainda  serão lançados. Ainda não temos uma linha de produtos para brasileiros,  mas não demorará muito para que os consumidores verde-e-amarelos possam  adquirir dispositivos que não necessitam de fios para terem suas  baterias carregadas.
 Tudo sem fio
 Usando a imaginação, podemos pensar em situações corriqueiras que nos  permitirão o uso da energia elétrica sem fio. Pense em acordar com o  despertador do rádio relógio, que por mais que você jogue longe, não  será desligado. Ele continua apitando até que você levante da cama.  Depois de se vestir, você vai até a cozinha, abre a geladeira, serve-se  de um copo de leite e coloca-o no forno de microondas. Depois de um  minuto, seu leite está quentinho, o que é um mistério, porque o plugue  do forno não está na tomada.
  Em  seguida, você entra no seu carro e, quando senta no banco e vira a  chave, percebe que o tanque está vazio. Mesmo assim, o carro liga e você  consegue ir trabalhar. No caminho, leva um grande susto, pois apesar de  seu celular estar sem bateria, ele toca aquela música ridícula que você  usa como campainha. Ao chegar ao trabalho, você se senta em frente a um  monitor que não possui qualquer tipo de conexão via cabo, e um  computador sem nenhum fio ligado.
Em  seguida, você entra no seu carro e, quando senta no banco e vira a  chave, percebe que o tanque está vazio. Mesmo assim, o carro liga e você  consegue ir trabalhar. No caminho, leva um grande susto, pois apesar de  seu celular estar sem bateria, ele toca aquela música ridícula que você  usa como campainha. Ao chegar ao trabalho, você se senta em frente a um  monitor que não possui qualquer tipo de conexão via cabo, e um  computador sem nenhum fio ligado.
 A situação acima é só uma viagem a um futuro incerto. Provavelmente a  tecnologia não será aplicada da maneira como relatamos nessa situação,  mas será algo muito parecido. Por enquanto, ela está sendo aplicada  somente a carregadores para as baterias de equipamentos eletrônicos, mas  podemos esperar grandes avanços e cada vez mais dispositivos capazes de  funcionar fora da tomada.
 Em resumo, a energia elétrica sem fio é uma solução limpa, que pode  resolver muitos problemas, em muitas áreas diferentes da sociedade. Só  devemos esperar (e fiscalizar) os responsáveis pelo desenvolvimento da  tecnologia, para que ela seja aplicada da forma correta, e para que  todos nós possamos usufruir dela no dia a dia, em um futuro próximo.